“É preciso rebolar para atrair uma multidão”, já dizia o roqueiro Elvis Presley (1935-1977)
ao quebrar os tabus do rock, as críticas da década de 60 e os
conservadores da música. Nos últimos anos, o sertanejo também entortou o
bico ao se deparar com uma jovem dupla ousada, com visual diferente e
muito rebolante: Munhoz (26) & Mariano (26), destaque de 2012 com o hit “Camaro Amarelo” e “Vou Pegar Você e Tãe”.
A inovação dos artistas - que chegam a girar a pélvis de 180º a 360º
graus – chocou os tradicionais do gênero. Mas agradou o público
feminino, que a cada movimento solta os seus histéricos e
característicos gritinhos. Não deu outra! Assim como o maior sucesso da
dupla, os jovens artistas ficaram “doces como caramelos” e conseguiram, entre muitas conquistas, estacionar dois cobiçados Camaros na garagem.
“No início, diziam que a gente não chegaria a nenhum lugar fazendo
aquilo no palco. Sofremos muita chacota no começo da carreira. Mas,
hoje, botamos a maioria das duplas para rebolar”, comemora Mariano, que ganhou um vídeo com suas melhores performances no Youtube e que chegou a ir de carroça a uma balada sertaneja aos 16 anos.
Atualmente, os cantores fazem de 22 a 25 shows ao mês, ultrapassaram 40 milhões de acessos no Youtube,
somam 2 milhões de cópias vendidas do primeiro DVD e preparam-se para
uma turnê nos Estados Unidos em fevereiro de 2013. Em entrevista
exclusiva à CARAS Online, eles comemoram o sucesso de
2012 e falam que novas ousadias irreverentes – tais como aparecer de
fralda – devem surgir em 2013.
- Com 40 milhões de visualizações no Youtube, 198 países
alcançados, 2 milhões de cópias logo no primeiro DVD, dois Camaros
Amarelos na garagem, vocês têm muitos motivos para comemorar 2012. Foi
de fato um ano marcante?
Mariano: Este ano foi incrível, abençoado, repleto de alegrias e
conquistas. A gente já começou com muitas benções, pois a música ‘Vou
pegar você e Tãe’ foi uma aposta que deu certo, principalmente no
carnaval. Surpreendeu a gente, pois pensávamos que tocaria somente nos
carros, que a censura iria pegar nas rádios, televisão, por conta do
duplo sentido, mas tornou-se hit do Brasil todo. O público pediu e os
veículos de comunicação atenderam tranquilamente. Além disso, a gente
gravou o nosso segundo DVD, com o estouro do “Camaro Amarelo”, um
sucesso que se tornou conhecido inclusive no exterior. Portanto, estamos
realizados e a palavra de tudo isso é uma só: benção.
- “Camaro Amarelo” fala de uma mulher que passou a se
interessar por um homem depois do sucesso financeiro dele. Embora essa
música não seja baseada na história de vocês, tem alguma relação?
Mariano: Tem relação, sim. Lá em Campo Grande, diziam: “Esses meninos
não tem futuro, não vão dar em nada”. Então, esta música não serve só na
questão de dar o troco na mulher maria-gasolina, mas de dar a volta por
cima, na mensagem de superação de quem sofreu chacota. Isso já
aconteceu com nós profissionalmente e também pessoalmente. Existem
meninas que, no começo, esnobaram a gente e hoje nos tratam bem, querem
alguma coisa conosco. Mas não devolvemos na mesma moeda. A gente trata
normal e agradece por nos fazerem aprender mais.
- Quando vocês perceberam que são sucesso no Brasil? Em qual momento vocês se perceberam famosos?
Mariano: Não percebemos, quer dizer, a gente não percebeu de uma hora
para outra. A gente tocava por brincadeira, para tomar a cervejinha do
fim de semana. Buscamos um pouco de reconhecimento nos bares de Campo
Grande e a coisa começou a ficar grande. Foi crescendo, crescendo e só
notamos que estávamos fazendo sucesso quando lotamos uma casa noturna de
Campo Grande. Foi o primeiro evento apenas com o nosso nome, pois antes
as festas sempre tinham algum atrativo - cerveja de graça, cerveja
barata – e conseguimos preencher o espaço com duas mil pessoas que
queriam apenas nos ver cantar. A partir daí começamos a levar a sério.
Gravamos o nosso primeiro CD, começamos a fazer alguns shows no interior
do Estado, então foi um processo lento. Até hoje a gente se questiona
muito sobre o que é sucesso, realização...
- A fama chegou a subir a cabeça em algum momento?
Mariano: Graças a Deus a gente não veio somente com o “Camaro Amarelo”
estourando, pois certamente a gente perderia o chão, a cabeça. A gente
vem galgando degrau a degrau desde 2007. Em 2009, nos
profissionalizamos, fomos subindo, vencemos a Garagem do Faustão,
conquistando o nosso espaço aos poucos. Foi por aí que conseguimos uma
bagagem muito grande. Somos uma dupla precoce, mas com muita bagagem.
- É verdade que muito antes do Camaro vocês já foram para a balada de carroça?
Munhoz: (Risos). É verdade, isso foi aos 16 anos. A gente não tinha
dinheiro e a gurizada mais velha não queria carregar a gente. O Mariano
chegou um dia: “Vamos sair hoje”. “Mas como?”, perguntei, ficando sem
resposta. Ele foi até um carroceiro e alugou uma carroça por R$10 e uma
garrafa de pinga. Às 9h, quando ele virou a carroça na esquina de casa,
pensei: “é mentira, não pode ser” (risos). Montamos na carroça, com mais
três amigos, passamos em uma conveniência, compramos uma garrafa de
jurubeba e chegamos na balada. O dono da casa não acreditava na gente e
falou: ‘Esses guris são da farra’. Começamos a nos divertir ali e
criamos um grupo, Los Fiacentos, tinha uma carroça, um burrão e um cara
deitado na carroça. Isso marcou.
- Além da música contagiante, o diferencial de vocês também
está na performance. Vocês rebolam, colocam fralda, possuem visual
diferente... Existe essa preocupação para chegar até o público dessa
maneira?
Mariano: O lance do visual foi natural, pois eu uso cabelo comprido
desde criança. Já sobre a desenvoltura, na verdade nós dois somos muito
tímidos no palco. Tudo foi uma quebra de barreira, tanto da minha parte
quanto da do Munhoz. Se você pegar alguns vídeos nossos do início para
agora, vai ver que a gente parecia duas estátuas no palco (risos). Mas
eu sempre fui um guri que fui muito para carnaval, dancei muito com
criança e a minha mãe dizia que eu tinha que abusar desse lado da
sensualidade, da mulherada. Um dia, a gente tentou arriscar alguns
passinhos em um show de Campo Grande e, nossa, a mulherada gritou, foi
aquela loucura. Aos poucos a gente foi se aperfeiçoando...
Munhoz: E criando a nossa própria personalidade, sem imitar ninguém.
Mariano: A gente nem faz aula de dança. As coreografias vão surgindo ali no palco mesmo, vai surgindo naturalmente.
- Vocês são um dos primeiros que rebolam no sertanejo. Sofreram algum tipo de preconceito do cenário artístico?
Mariano: No começo, fomos muito criticados, chegamos a ser motivos de
chacota pelo pessoal do meio. E hoje todos têm que nos respeitar e a
maioria deles está tendo que rebolar, tendo que ter uma desenvoltura no
palco também. Então, para a gente, saber que somos os pioneiros é muito
gratificante. Mas adianto que para rebolar com tranquilidade e fazer o
show, criamos um personagem. Pode não parecer, mas somos muito tímidos
(risos). Passamos a investir nesta questão quando vimos que as meninas
ficavam loucas e que o assédio mudava. A gente acabou criando outro
rótulo, que é o do sertanejo sex symbol.
- Chegou a ver um vídeo na internet chamado “Proibidão do Mariano”, em que mostra cenas sexy suas ao som de Im Too Sexy?
Mariano: Vi e achei demais (risos). Conheci a menina que fez durante um
show e disse que achei um sarro, tudo muito criativo, muito engraçado.
Até coloquei no meu Twitter pessoal. Está com mais de um milhão de
acessos. Foi bem bacana e criativo.
- Consideram-se sex symbol?
Mariano: Não me sinto, acho que não tenho nada de sexy, mas se elas
estão falando, né? (risos). Então é prazeroso. Qualquer trabalho que
você tem um reconhecimento é gratificante. O meu trabalho não é
diferente e do Munhoz também não. Pelo que vemos nos shows e nas redes
sociais, nós nos tornamos um objeto de desejo. Isso é bacana e tão forte
que acaba até prejudicando a nossa vida pessoal. Elas são tão
fanáticas, sentem tanto desejo, que é difícil ter um relacionamento na
vida pessoal.
- Há rumores de que você vive um romance às escondidas com a jornalista Nadja Haddad. Conseguir uma namorada agora pode prejudicar a carreira? As fãs não vão gostar?
Mariano: É, as fãs vão ficar muito bravas, não vão gostar...
- Vocês tiveram uma fã que chegou abrir mão de um transplante
de rim para assistir à gravação do DVD de vocês. Conta melhor essa
história...
Mariano: Foi a maior loucura de fã que a gente já recebeu. Uma criança
de 13 anos, que não sabia o risco que estava correndo, queria adiar a
data do transplante de rim para assistir ao nosso show. Era um
sofrimento para a família e para ela, que é nossa fã. É claro que ela
foi fazer a operação. Mas, quando soubemos, acabamos adiantando o nosso
voo, chegando mais cedo para ir ao hospital visitá-la. Foi uma grande
surpresa para ela e gratificante demais para a gente. Ver aquela menina
sorrindo e chorando daquele jeito eu nunca vou esquecer na minha vida.
- Atualmente, o sertanejo alcançou um público diferente. Acha que o sertanejo ficou chique?
Mariano: Com certeza! O sertanejo, principalmente o sertanejo
“universitário”, está vindo com uma roupagem nova. Está mesclando os
estilos, tocando funk, samba, e abraçando um público maior. Tudo se
inova e com o sertanejo não é diferente. Acho que ele consegue ser
chique, popular, divertido. Pensamos que ele vem para somar como uma
vertente da música brasileira. É muito positivo.
- Depois de enfrentarem muitas críticas, como é estar no topo?
Mariano: Confesso que a gente está bem assustado. Estamos trabalhando
muito, estamos esgotados fisicamente, pois a quantidade de shows está
muito grande. Estamos fazendo em média de 22 a 25 shows por mês,
conciliando com entrevistas em rádio, TV... Então estamos cansados, mas
ao mesmo tempo curtindo muito, pois tudo isso é o reconhecimento do
esforço do nosso trabalho. É muito bacana ver o reconhecimento a cada
dia, o assédio dos fãs, o número das pessoas que gostam da gente
aumentar, a presença em frente ao hotel. A gente lutou tanto e ver isso
se concretizando é muito bom.
Munhoz: Tudo começou como uma grande brincadeira, Então, de dois
gurizões que somente se divertiam à noite, hoje a gente sustenta mais de
45 pessoas envolvidas no nosso trabalho. É um baque e a nossa ficha
ainda não caiu. Aliás, não quero que caía. Não quero saber onde vai dar,
quero apenas que não tenha fim.
- Carreira solo é algo que passa na cabeça de vocês?
Mariano: Carreira o que? De jeito nenhum.
Munhoz: Se tiver na carreira solo, eu vou cantar para quem? (risos).
Mariano: Se acabar, acabou tudo.
- Amigos desde os 6 anos, vocês trabalham juntos e dividem grande parte de suas vidas. Qual é o valor dessa amizade?
Munhoz: A nossa amizade é tudo. Não falo nem que ele é meu amigo, é meu
irmão. Eu convivo mais com ele que com a minha própria família, é uma
das pessoas que eu mais tenho confiança. Conheço o Mariano desde os 6
anos, brincando na esquina da minha casa. Quando eu fiz 11, ganhei um
violão e comecei a tocar. Da rodinha, eu era o excluído, pois era mais
quietão, ficava mais na minha. Depois de um tempo, fui tocar com uma
dupla e chamei o Mariano para me acompanhar. Ele falou: “Será? Estou com
vergonha”. Daí, ficamos treinando um fim de semana em casa, tocamos e
aquela dupla acabou se desfazendo. Foi quando começamos a tocar nós dois
em barzinho. Hoje, somos amigos, irmãos...
- Com essa convivência praticamente total, vocês nunca brigam?
Munhoz: A gente briga por coisinhas de trabalho, mas 10 minutos depois já está se abraçando, fazendo o outro rir.
Mariano: Como a gente tem uma amizade de anos, a gente se conhece a
fio. De manhã, do jeito que eu olho para ele sei se ele está bom, se não
está, se eu posso brincar ou não. Com isso a gente se respeita. A vida
da estrada é muito desgastante, estressante, mas a gente sabe contornar
tudo isso, sabe respeitar o espaço do outro. Irmãos a gente não escolhe,
mas os amigos são basicamente os irmãos que a gente gostaria de ter. E
nossa amizade é muito forte.
- Quais são as referências musicais que vocês trazem da infância?
Mariano: O nosso Estado é muito sertanejo. Mas os nossos ídolos são o
Milionário e José Rico. A gente cresceu ouvindo Leandro e Leornado, João
Paulo e Danil, Zezé Di Camargo Luciano, Chitãozinho e Xororó... que
gostamos também, mas somos fãs incondicionais do Milionário e José Rico.
E gostamos muito dessa galera nova: Jorge e Matheus, Jorge e Gustavo...
É uma galera de muito talento.
Vocês são vaidosos?
Munhoz: Eu sou um pouco. Gosto de roupa, perfume, cabelo. Eu gosto
muito de me cuidar, porque se eu não me cuidar, né? (risos). Também
tenho muitas botas (ele tem mais de 30, no valor de R$2 a 5 mil).
Mariano: Eu malho por necessidade, não é por gosto. Até porque eu tenho
muita tendência a engordar, então passar todos os dias comendo na
estrada, essas porqueiras em hora errada, me faz engordar. Eu tenho que
tentar manter do jeito que está, não por questão pessoal, mas por
necessidade mesmo. Quando dá e estamos na cidade, vou pra academia. Mas
às vezes não consigo. Tento malhar de 2 a 3 vezes por semana. O cabelo
não tenho nenhum cuidado especial. Lavo com xampu normal e, se não
tiver, lavo só com sabão de coco (risos).
- Vocês gostam de carro? Como foi conquistar um Camaro?
Munhoz: Sempre fui fã de carro. Eu tenho um Camaro e o Mariano também.
Antes da musica, eu já havia procurado para comprar, só que na época não
deu certo. Pensei: “Um dia ainda vou comprar esse carro para mim”.
Depois que lançamos a música, explodimos de imediato e falei: “Agora não
vou deixar de comprar, não” (risos). Eu já tinha comprado um Audi para
mim, então pensei: “Perco esse daqui, mas o Camaro eu vou ter”. É uma
paixão.
Com o sucesso, falamos muito de alegria, realização... Mas quando vocês choram?
Mariano: Choramos de saudade, da família, de casa, dos amigos. Choramos
sozinhos no quarto do hotel. Ficamos muito tempo fora, então na hora
que a saudade bate não tem jeito. Esse é um dos poucos lados negativos
da carreira. São coisas pequenas, pois os positivos cobrem de longe, mas
a saudade é um ponto que pega bastante.
Munhoz: Com certeza, a saudade. A saudade é matadora ela judia da
gente. Eu nem volto para Campo Grande, estou ficando em Olímpia. Então,
eu sinto saudade da minha vó, falo para pegar um avião. E, quando elas
vêm, gosto de curtir com elas, com a minha mãe.
- Qual é o sonho de vocês atualmente?
Mariano: Meu primeiro sonho eu já realizei, que era aposentar os meus
pais. O atual é continuar vivendo de musica, pois a gente sabe que o
sertanejo universitário promove um sucesso passageiro e nós queremos
continuar. A nossa vontade é construir uma carreira sólida, de sucesso,
por mais tempo, não ficar só no Camaro Amarelo.
Munhoz: Meu sonho é continuar vivendo da música, fazer bem para minha
família, mãe e avó. E ter tudo o que eu tenho vontade de ter. Na
verdade, o sonho da gente nunca acaba.
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