RIO - Michel Teló, o novo astro do som sertanejo, está nas alturas. Mais
precisamente, pousando em Iturama, Minas Gerais, quando atende o
celular e pede que a ligação seja refeita em 15 minutos, quando já tiver
desembarcado na cidade, onde se apresentaria na noite da última
quarta-feira. Mais tarde, já no hotel, ele faz questão de contar uma
história, que aconteceu há algumas semanas, no saguão do aeroporto de
Congonhas, em São Paulo.— Um grupo de crianças se aproximou e pediu para
tirar fotos comigo — diz Teló, que marca quase todas as suas frases com
um "cara". — Aí um garoto, mais espertinho, me cutucou e perguntou:
"Sabe o que a barata disse pro chinelo?" Fiquei meio sem jeito e
respondi que não sabia. Ele disse, cantando: "Nossa, nossa, assim você
me mata". Achei engraçado e fiquei impressionado. Cara, não sabia que
minhas músicas tinham atingido as crianças também.Mas atingiram, como mostrou a inocente subversão do grupo em torno da letra maliciosa do megahit "Ai se eu te pego". Lançada em julho deste ano, como um single do disco e DVD ao vivo "Michel Teló — Na balada" (que chega às lojas neste mês, pela Som Livre), a música — originalmente um axé, do grupo Meninos do Seu Zeh, transformado por Teló em um pop sertanejo, pontuado por sanfonas — se transformou numa das mais ouvidas, vistas e tocadas do Brasil no segundo semestre.
Seu vídeo, gravado durante uma apresentação no Wood’s Bar, em São Paulo, acumula mais de 77 milhões de acessos no YouTube. Uma coreografia baseada na música se transformou num viral na internet, gerando várias cópias e conquistando jogadores de futebol, entre eles Neymar, do Santos, e Diego Souza, do Vasco, que começaram a adotá-la na comemoração dos seus gols. O ápice aconteceu quando o português Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, fez a dancinha ao lado do brasileiro Marcelo, depois de marcar um gol no campeonato espanhol.
— Cara, não acreditei quando vieram me falar pelo Twitter que isso tinha acontecido — diz Teló, que nasceu no Paraná e mora, desde os 3 anos (tem 30) em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. — Aí me mandaram o link para o vídeo e fiquei de boca aberta, tentando entender como isso tinha acontecido.
Fã de sons eletrônicos
Como efeito colateral da brincadeira da dupla do Real Madrid, "Ai se eu te pego" virou hit também na Espanha, em Portugal e na Itália. Por aqui, a música se tornou uma das mais baixadas nos primeiros dias de funcionamento no Brasil da loja iTunes, da Apple, fazendo com que Teló — em carreira solo há apenas dois anos, depois de mais de uma década integrando o grupo Tradição — superasse medalhões como Roberto Carlos e Ivete Sangalo, só perdendo o topo para a emergente cantora britânica Adele.
— Ainda fico tonto com tudo isso, cara. Já estou no meio musical há algum tempo e, quando saí do Tradição, queria mesmo trilhar novos caminhos, mas não esperava essa febre toda em torno de "Ai se eu te pego".
Tradição é mesmo passado para Michel Teló, cujo apurado faro pop o ajudou a enfileirar nas paradas de sucesso, desde o ano passado, hits como "Fugidinha" — estourada também pelo ExaltaSamba —, "Ei, psiu! Beijo me liga" e, agora, a grudenta "Ai se eu te pego".
— O Michel sempre teve esse brilho para a música — lembra seu irmão mais velho e empresário, Teófilo Teló. — Nossa família tinha uma padaria em Campo Grande. Aos domingos, quando fechávamos, nos reuníamos para cantar numa área nos fundos, e ele era sempre o destaque, até os vizinhos vinham vê-lo puxar músicas sertanejas, italianas, pop, qualquer coisa.
Aos 12 anos, Teló já cantava profissionalmente (no grupo Guri). Mas foi o recente voo solo que o libertou de vez das fronteiras sertanejas, estilo que está ajudando a modernizar, com o aval dos veteranos.
— O Teló merece esse sucesso todo porque não usa qualquer tipo de apelação para chegar ao topo. Ele representa muito bem a renovação do sertanejo — afirma Milionário, da tradicionalíssima dupla Milionário e José Rico.
De fato, o próprio visual de Teló — urbano, distante das tradicionais botas e chapéus — simboliza essa renovação do gênero. Seu gosto musical também está distante da média. Apesar de venerar mestres do sertanejo como Chitãozinho e Xororó e os próprios Milionário e José Rico, ele diz que também gosta de ritmos eletrônicos.
— Curto house, techno, tudo isso. Só não curto muito rock. Não é a minha praia, embora eu admire o U2 e o Pink Floyd — garante.
De carona no sucesso, Michel Teló hoje viaja por todo o Brasil, fazendo uma média de quatro shows por semana (por valores que, se estima, estejam entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão por apresentação). Para se deslocar com sua banda e equipe técnica (cerca de 30 pessoas), Teló, que toca gaita e sanfona, usa seu próprio ônibus.
— Não tenho medo de avião, mas prefiro mil vezes viajar de ônibus — conta. — Nele, fico jogando videogames com a turma e tenho minha própria suíte, onde posso ver DVDs de "House" e "Grey’s anatomy", meus seriados preferidos. É bem mais tranquilo.
Declarando-se viciado em tecnologia, Teló não desgruda do celular e do laptop. Garante que não passa um minuto sem acessar sua conta no Twitter e no Facebook.
— Eu sou maluco por tecnologia e apaixonado pela internet, que foi fundamental para a minha carreira solo. Meu único vício na vida é esse: olhar meus e-mails e minhas contas a toda hora.
Em fevereiro de 2012, Teló vai ter que estacionar o seu ônibus e encarar os aviões, já que parte para sua primeira turnê internacional, com shows marcados na Espanha, Itália, Inglaterra e Suíça.
— Estoy tentando hablar espanhol para encarar esse novo desafio — brinca ele. — Tenho viajado com um professor de espanhol ao meu lado, para aprender mais rápido. Só o inglês é que ainda está enrolado. Mas eu me viro também. A minha sorte é que o meu nome tem uma sonoridade universal. Alguém me disse que eu nem precisava fazer numerologia, que ele já era perfeito. De fato, até agora tem dado certo.
Fonte: O Globo
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